Após uma série de ataques fatais atribuídos à raça, o Reino Unido bateu o martelo sobre a proibição dos cães American Bully XL na Inglaterra e no País de Gales. No último dia 1º de fevereiro se encerrou o prazo para a regularização dos cães desse tipo. A partir desta data, passou a ser totalmente proibido criar, vender, anunciar, trocar, dar, realojar, abandonar ou permitir que cães Bully XL sejam transportados ou extraviados.
Banimento
Em setembro do ano passado, o primeiro- ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, com base na Danger Dogs Law ( a Lei dos Cães Perigosos), anunciou a proibição da raça Bully XL e uma série de restrições para as pessoas que já possuem um manterem seus cães de forma legal. No pronunciamento, o premier britânico classificou a raça como “mortal”, e “um perigo para a nossa sociedade, em especial para as crianças”, e afirmou que não se tratava de casos isolados, “é um modelo de comportamento e isso não pode continuar”, visto o recorrente e elevado número de incidentes envolvendo os Bully XL.
Confira abaixo o vídeo com o pronunciamento de Rishi Sunak, feito em setembro do ano passado, anunciando a proibição da raça.
O secretário do Meio Ambiente, Mark Spencer, responsável pela lista de Cães Perigosos, disse que a extinção total da raça no Reino Unido só ocorrerá, de fato, depois de um certo tempo. A intenção do governo com a rígida medida é extinguir os cães Bully XL na região, dentro de um prazo de médio a longo.
“Vamos ter que passar pelo processo de identificar as características desses cachorros e ter certeza de que não vamos cometer erros”, afirmou Spencer à BBC Radio 4. “Vamos acertar no equilíbrio entre nos livrarmos dos cães maldosos com características horríveis, mas vamos proteger os animais de estimação das pessoas”, declarou.
Christine Middlemiss, chefe da Agência Veterinária Governamental do Reino Unido, falou para a BBC Radio 4 sobre o fim do prazo de registros, se dirigindo diretamente aos proprietários de cães Bully XL:
“Alguns deles (os cães) serão bem socializados, gerenciados e treinados. Você (dono) precisará se registrar e tomar algumas medidas. O seu cachorro terá de ser microchipado e castrado. E usar focinheira e coleira em público. Mas se você cumprir essas medidas, e se soubermos onde estão esses cachorros, daí sim, com certeza você poderá mantê-los”, disse.
No vídeo acima, as declarações feitas por Christine Middlemiss, chefe governamental do Departamento de Veterinária do Reino Unido, durante entrevista concedida à rede de televisão GB News, ocasião em que “aconselhou” os proprietários de Bully XL a registrarem seus animais de estimação até meia-noite de domingo, 31 de Dezembro, e falou sobre a nova lei.
Registro em massa
A confirmação do governo sobre o banimento veio pouco mais de um mês após o anúncio feito em Setembro por Sunak. A partir do dia 31 de Outubro do ano passado, o governo passou a ser mais ativo na divulgação do registro obrigatório e publicou o padrão dos cães a serem banidos, segundo critérios estabelecidos pelo Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (DEFRA).
Para quem já possuía cães da raça foi permitido ficar com o animal, contanto que o registrasse e solicitasse um certificado de isenção, cujo prazo para solicitação venceu dia 1º de Fevereiro. Para adquirir o documento, que custa £ 92,40 (libras esterlinas) por cão, o equivalente a R$ 578,42 na cotação atual, os proprietários dos cães precisam ter cobertura de seguro contra danos a terceiros e ainda passam por um processo extremamente moroso e exigente.
Cerca de 35 mil pessoas realizaram o registro de seus cães e solicitaram o certificado de isenção. O problema é que esperava-se um número muito maior de registros, uma vez que estima-se que haja bem mais cães tipo Bully na Inglaterra e no País de Gales. O certificado de isenção é uma espécie de anistia que garante o direito à posse e permanência do animal. O documento passou a ser obrigatório para quem tem um Bully XL e a falta desse certificado configura crime. O desacato à lei pode resultar em até 14 anos de prisão e multa de valor ilimitado a ser estabelecida pela Justiça, assim como na apreensão e eutanásia do cão irregular.
e Assuntos Rurais (Defra), e divulgada nos canais oficiais do Governo do Reino Unido.
Além do certificado de isenção, os cães autorizados terão de ser microchipados, castrados e alojados em segurança. Sempre que estiverem em espaço público, deverão estar na coleira e fazendo o uso de focinheira. A reprodução de cachorros da raça Bully XL no país passa a ser totalmente proibida.
Eutanásia: A matança de cães com o aval do Estado
Em setembro foi anunciada a proibição e o banimento. Em Outubro, foram determinados os critérios de avaliação dos cães e os requisitos a serem cumpridos pelos proprietários de Bully XL. Para permanecerem com seus cães, teriam que registrá-los até 31 de dezembro e cumprir com todas as exigências extremamente burocráticas para adquirir o certificado de isenção até o dia 1º de fevereiro, prazo final. A partir dessa data, começou a pior fase da caça às bruxas: a apreensão e sacrifício de cães irregulares.
Na verdade, a real intenção do governo parece ser dificultar e limitar o processo de isenção para conduzir a situação de forma a tornar mais fácil para as pessoas sacrificar seus animais do que salvá-los. Para incentivar aqueles que possuem um Bully XL a, voluntariamente, submeterem seus animais de estimação saudáveis à eutanásia, o governo lhes oferece um subsídio de £ 200 (duzentas Libras Esterlinas), o equivalente a R$1.252,00 na cotação atual.
£ 200 (duzentas libras esterlinas) para quem entregar voluntariamente seu Bully XL para ser sacrificado.
Com o final do prazo para a solicitação do certificado de isenção, o governo britânico passou a recolher os cães que não possuem o registro. Esses cães estão sendo encaminhados para abrigos temporários até que a Justiça britânica decida por sacrificá-los.
Até o final de Dezembro do ano passado, mês em que a primeira fase da lei entrou em vigor, havia mais de 240 cães do tipo Bully XL para adoção em abrigos e centros de resgate. Como agora a lei proíbe dar, realojar e criar cães da raça, este cenário forneceu um subterfúgio jurídico oportuno para o sacrifício desses animais. A probabilidade é que boa parte desses cães, (se não todos), já tenham sido sacrificados.
Na próxima matéria desta série especial, o Media Pet vai relembrar os ataques que mais repercutiram junto à opinião pública e fazer uma análise de como toda a comoção gerada no Reino Unido por esses lamentáveis acontecimentos, somada a uma cobertura rasa e sensacionalista da imprensa britânica levaram o governo e boa parte da sociedade a optar por uma solução paliativa, imediatista e desumana, em troca de uma falsa sensação de segurança.
