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CRIADORES BRASILEIROS COMENTAM BANIMENTO DOS BULLY XL NO REINO UNIDO E TRAÇAM UM PARALELO COM O BRASIL

O Media Pet entrevistou alguns experientes criadores brasileiros sobre a decisão do governo do Reino Unido pelo banimento dos Bully XL, cuja criação e reprodução na Inglaterra e no País de Gales foram terminantemente proibidas. Os criadores Alessandro Vasconcelos; Rodrigo Franco; Mandela Root Bully; Germano Lavigne; Bruno Nogueira; Matheus Cerqueira; Sampaio e Maurício Belini apresentaram seus pontos de vista sobre a polêmica decisão e traçaram um paralelo entre o que ocorreu nesses países, com o atual cenário da criação de cães das raças tipo Bull no Brasil.

Após uma onda de ataques atribuídos a cães da raça American Bully do padrão XL no Reino Unido, o governo britânico resolveu banir definitivamente a raça. Depois de realizar uma ampla pesquisa sobre o tema, o portal Media Pet publicou uma série de três reportagens abordando a questão, fazendo um levantamento do número de ataques, o mapeamento dos casos de maior repercussão e apurando o número de vítimas fatais atribuídas a esses trágicos acontecimentos.

Para dar prosseguimento a este tema, o Media Pet procurou por criadores brasileiros, para saber a opinião deles a respeito do assunto e de que forma poderia ser feita alguma analogia ao contexto da criação de raças similares em nosso país, visto que são profissionais experientes e conhecedores das especificidades físicas, genéticas e comportamentais das raças que se proporam a criar.

Alessandro Vasconcelos – (Bull Master Kennel Club)

“O Reino Unido é um país com leis bastante rígidas no que diz respeito a cães ferozes e ataques de cães, mas a proibição da criação de uma raça não vai mudar esses fatos, que podem vir a acontecer com outras raças. Até porque, todo cão tem potencial agressivo e pode vir a manifestar agressividade de alguma maneira e em dado momento. Acredito que a criação séria, com uma seleção genética voltada para o temperamento ajudaria muito na proliferação de cães mais dóceis”, destaca o criador de Vitória da Conquista, na Bahia.

Alessandro também ressalta que a forma como o cão é criado, pode ser determinante quando se trata de temperamento. “Entretanto, é preciso observar como esses cães foram criados, em quais condições e se é uma pessoa que entende do comportamento dos cães, principalmente porque há, realmente, indivíduos que apresentam uma maior predisposição a desenvolver um temperamento mais agressivo do que outros. No caso do Brasil, acredito que um trabalho de conscientização para a criação de determinadas raças é mais eficiente do que a proibição. Acho que a regulamentação da atividade, para que a criação de cães fique nas mãos de criadores responsáveis; a conscientização e preparação dos tutores e a adequação dos ambientes onde os animais serão criados, sejam as melhores soluções”, diz o criador.

Rodrigo Franco (King Bulls Kennel)

Profundo conhecedor e grande estudioso da raça American Bully, o experiente criador da cidade de Imperatriz, no Maranhão, tem uma opinião contundente e polêmica sobre o assunto.

“Para início de conversa, o Bully XL nem é um American Bully. O padrão da ABKC diz que, independentemente do tamanho da cernelha, o cão deve ser o mesmo, apresentar as mesmas características fenotípicas e os cães XL, principalmente os europeus, são cães que parecem molossos, o que, por si só, já evidencia que não de trata do mesmo cão. Fica nítido que foram feitas inserções de várias outras raças e um dos maiores problemas desses ataques é justamente esse, a misticidade”, opina o criador.

E ele continua: “Não é a mesma raça. Na minha opinião, o padrão XL deveria ser excluído da ABKC, porque nem mesmo nos Estados Unidos o padrão da raça é respeitado. Inclusive, muitos criadores de XL do próprio país onde a raça foi criada, assumem que seus cães sofreram inserções de cães molossos. Eu sou um cara que acredito muito no que vejo, e o que a gente vê quando olha para a maioria desses cães é que eles não representam o padrão dos American Bullies”, completa.

Franco aproveita a oportunidade para tecer duras críticas aos grandes criadores do Brasil. “Se você observar o que acontece no Brasil, quem mais bagunça as raças aqui em nosso país são os criadores de grande porte, aqueles que possuem 30, 40, 50 baias, pois a maioria tem um trabalho mais voltado para o retorno financeiro, do que para relevantes e significativas contribuições para o desenvolvimento das raças no país. Pode parecer contraditório, mas hoje, no Brasil, pelo menos no que diz respeito ao American Bully e ao Pit Monster, quem mais contribui para o real desenvolvimento da raça são os criadores de pequeno porte, que possuem plantéis pequenos e focam em realizar um trabalho de excelência genética, dentro daquilo que determina o padrão oficial das raças”, dispara o criador.

“Acredito que tanto lá no Reino Unido, quanto aqui no Brasil, a solução é realizar um trabalho ético, focado no mapeamento genético, teste de DNA e utilização de microchip. Dessa forma é possível evitar a “trepação” de pedigree e as inserções indiscriminadas. Esses grandes criadores permitem que as demandas do mercado consumidor determinem suas criações e esse, a meu ver, é o grande problema da criação de cães em qualquer lugar do mundo, sobretudo dessas raças que acabam se popularizando demais”, avalia Rodrigo Franco.

Mandela – (Root Bully)

Para Mandela, um dos mais experientes criadores do real padrão da raça American Bully no Brasil, a situação ocorrida no Reino Unido pode, sim, acabar ocorrendo em nosso país, pois, nos últimos anos, a criação de cães de raças despertou o interesse de muita gente que só ingressa na criação de animais visando obtenção de lucro, além de a atividade não ser devidamente regulamentada e nem fiscalizada no país.

“O que aconteceu lá é fruto do desenvolvimento da atividade sem nenhuma regulamentação ou devida fiscalização e isso ocorre aqui da mesma forma. Se você considerar todo o universo da criação de raças no país, principalmente dos cães tipo Bull e Bully, são poucos os criadores que realmente desenvolvem suas criações com base em critérios éticos, técnicos e com base em seleção e aprimoramento”, analisa o criador de Brasília.

“Não creio que a proibição seja o caminho. Acredito que a regulamentação e uma devida fiscalização da atividade seja sempre a melhor solução, pois somente dessa forma é possível eliminar o mau criador e restringir a atividade àqueles que realmente seguem as regras, as exigências técnicas e sanitárias e os reais padrões das raças, respeitando os animais e praticando, inclusive, a necessária seleção de indivíduos com base na saúde e no temperamento. Isso sim possibilitaria reduzir este tipo de incidente a quase zero. Outra coisa que é importante ressaltar é o papel das entidades de registro nisso tudo, que é são quem mais ganha dinheiro com o comércio de cães de raça. Hoje é dia é muito fácil e muito barato registrar um canil, da mesma forma que é muito fácil e barato registrar ninhadas, e as entidades fazem isso em grande escala e de forma indiscriminada. Não há o mínimo compromisso com padrões de qualidade. O problema, assim como as possíveis soluções, perpassam, sim, pelo papel das entidades de registro”, critica Mandela.

Germano Lavigne (Canil Stone Bones)

Para o criador, que hoje reside em Goiás, o problema é um misto de coisas, dentre elas o grande sensacionalismo causado pelo preconceito a determinadas raças. “Sempre ocorre de pegarem alguma raça de cão para “Cristo”. Acredito que, devido à grande popularização da raça e à repercussão desses ataques, acabou que atribuíram tudo que é ataque provocado por cães que reúnem características semelhantes a de um pitbull ou a molossos, a uma raça específica e acabou caindo na conta dos Bully XL, como aconteceu com o pitbull na década de 90 e hoje em dia essa tendência voltou novamente, onde quase toda situação envolvendo ataques de cães é atribuído aos pitbulls e agora, no caso do Reino Unido, ao American Bully XL. Isso se dá pelo fato de o pitbull ser uma raça muito popular e agora os Bully em geral serem a raça do momento”, avalia Germano.

“Não sei se isso aconteceria no Brasil, onde as leis não são seguidas e são muito mal elaboradas, leis que são feitas sem contar com um parecer técnico de especialistas aptos a opinar com embasamento científico sobre os temas. É tudo feito com base no populismo e na exploração política de temas que geram grane comoção social. Temos como exemplo a cirurgia de orelha (conchectomia), que proibiram, mas as pessoas continuam fazendo. Apenas tiraram essa atribuição do veterinário, o profissional mais apto a fazê-la, para jogar na clandestinidade. Então, não acredito que uma proibição seria algo positivo, talvez fortalecesse o mercado ilegal”, reflete Germano.

Lavigne também destaca o boom de criadores pós-pandemia. “Com a pandemia, muitas pessoas sem preparo técnico ou conhecimento cinotécnico algum passaram a criar cães para conseguir notoriedade nas redes sociais e isso ajudou a manchar a imagem do verdadeiro criador, aquele que está fazendo um trabalho realmente sério e ético. Antigamente existia uma relação de envolvimento dos criadores com seus cães e com as raças que criavam e vemos que, hoje em dia, isso tem se perdido”, ressalta o criador.

Bruno Nogueira (Nogueira Blood Kennel)

“Essa questão de proibição de raças não é nova. No mundo existem países que são mais rigorosos quanto a essas questões. A gente vê que no Reino Unido, em questão, já houve outras raças que foram banidas por causa de um forte apelo midiático e social. É preciso entender que, mesmo que se trate de uma raça considerada tranquila, há o temperamento da raça e há o temperamento do indivíduo. Existem populares raças de cães de companhia que possuem indivíduos agressivos, como o Labrador, o Golden Retriever e até mesmo entre cãe menores, como Shitzu, Poodle e Buldogue Francês”, reflete Nogueira.

“Acredito que certas coisas acontecem por uma falta de atuação no controle da raça por parte das entidades, que emitem  registros para criadores que fazem cruzamentos inapropriados entre os XL‘s e cães com alto instinto de guarda e de caça. Quando se faz uma cruza entre raças, você não traz apenas os atributos físicos, mas também as características comportamentais. A raça cresceu de forma muito rápida e descontrolada no mundo todo. Muitos desses ataques, quando você vai ver, nem foram causados por cães da raça American Bully, mas por cães que são frutos de uma mestiçagem”, conclui o criador de Vitória da Conquista, na Bahia.

Matheus Cerqueira (Big Foot Bulls)

A criação de cães de raça cresceu em uma proporção gigantesca nos últimos anos. Com esse crescimento, houve também uma grande movimentação no mercado pet. Só que esse crescimento não teve só pontos positivos, houve um aumento também na popularização de algumas raças, principalmente nas raças Bull, que envolvem diversas raças derivadas que têm, em sua fundação, a participação dos bulldogs e isso trouxe diversos malefícios, por ter aberto margem para criadores inexperientes entrarem nessa atividade em busca de aumentar a renda, sem nenhum conhecimento básico de cinotecnia, degradando e vulgarizando as raças, reproduzindo desesperadamente, diminuindo bastante a qualidade das poduções e aumentando a quantidade de animais no mercado, consequente derrubando o valor comerrcial e favorecendo uma popularização negativa das raças. E foi exatamente isso, que hoje acontece no Brasil, que ocorreu no Reino Unido’, avalia.

Para o criador de Feira de Santana, a seleção genética é fundamental na criação. “Sempre me preocupei com a qualidade dos animais: conformação e temperamento. Nunca vi fase tão ruim na criação como essa atual, onde vem caindo muito a qualidade dos animais. Existem muitos comerciantes de cães, hoje se autodenominando criadores, é muita modinha. Na prática, o que se vê, são muitos animais morrendo jovens, antes dos 4 anos de idade, com uma série de problemas graves de saúde. Precisamos acordar para essa triste realidade em que se encontra o meio, pois a ignorância e a ganância de alguns está levando a criação de cães à ruína”, conclui Matheus.

Sampaio (Sampaio Monster Bully)

“Sou totalmente contra a proibição que ocorreu no Reino Unido. Entretanto, é preciso fazer uma ressalva. Os criadores estrangeiros, de uma forma geral, têm muito mais conhecimento cinotécnico que a maioria dos criadores do Brasil. Acredito que a expressiva maioria dos criadores do Reino Unido são pessoas que realizam um trabalho de excelência, mas, mesmo assim, em função de uma minoria que não tem ética nem expertise, por causa de poucos criadores que produziram cães com o temperamento totalmente fora do ideal para a raça, todos terminaram prejudicados. É aquela história: duas laranjas estragadas terminam por apodrecer todas as frutas do cesto. Eu me solidarizo com esses criadores, que agora estão privados do direito de criar seus cães”, reflete o diretor da BKR.

“Aqui no Brasil, podemos dizer que quase 90% daqueles que se dizem criadores, não têm conhecimento cinotécnico algum, nem qualquer noção mais aprofundada sobre as origens das raças que criam, sua história ou até mesmo sobre o cachorro enquanto animal, seja sobre comportamento, anatomia, genética, patologias ou função original das raças. Estamos nos dirigindo para um nível cada vez mais raso, onde a maioria dos criadores só pensa em aparecer nas redes sociais e em quanto dinheiro uma ninhada vai colocar no seu bolso. Não sabem nada sobre aprimoramento genético, pois não estudam, são totalmente imediatistas e querem reproduzir o que outros leigos que pagam de autoridade dizem, sem o menor conhecimento de causa . A cinotecnia brasileira está pedindo socorro, pois foi tomada por um câncer que se alastra a cada dia. É triste, mas é a mais pura realidade”, ressalta o criador capixaba.

Maurício Belini (Belinis Bull Kennel)

“Isso tudo que aconteceu no Reino Unido foi ocasionado por causa do modismo. Esses cães das raças Bull, desde os Pits até o Bully XL, caíram em mãos erradas e ficaram estigmatizados muito rapidamente e isso foi potencializado por causa da velocidade com que a informação circula hoje, proporcionada pela grande integração da internet e das redes sociais. Na década de 80, foi o Doberman, depois, o Rottweiler. No final dos anos 90 e na primeira década de 2000, os Pitbulls. Se a internet existisse em 80/90, ou se em 90/2000 tivesse a força que tem hoje, muito teria se falado em banimento dessas raças”, avalia o criador carioca.

“Agora vivemos a onda dos Pitmonsters e dos American Bullies, que são cães fortes, com algumas linhagens de temperamento mais quente e que necessitam de um manejo mais cuidadoso. Esses ataques são culpa dos tutores dos cães. Aqui no Brasil existe uma tendência de se copiar o que acontece no exterior, mas nunca copiam as coisas boas. Essa onda de banimento de raças vai chegar aqui, isso é quase certo. Já existem políticos empenhados nisso há anos e com esses ataques recentes, este tema está muito em voga. Vejo o banimento e a proibição com péssimos olhos. Não é proibindo que se resolve a questão, porque o irresponsável que hoje tem um Pitbull, caso proíbam, ele vai criar Dogo Argentino, vai criar Presa Canário. Aí vão fazer o quê? Vão proibir todas as raças, por causa da incapacidade de uma pequena parcela de indivíduos incapazes, que não conseguem tomar conta de seus próprios cães? Esse não é o caminho. O caminho é criar leis mais rigorosas para quem tiver um cão envolvido em ataques a humanos; regulamentar a atividade da criação e obrigar as pessoas que adquirem cães de alto potencial ofensivo a realizarem algum tipo de curso, para prepará-las para ter um cão desse tipo”, ressaltou Belini.

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